Autonomia com polo de fármacos

LAFEPE Laboratório produzirá insumos para medicamentos que fabrica e para outros laboratórios

Não é só a qualidade da rede hospitalar de Pernambuco que se destaca nacionalmente. Com um investimento bilionário, a construção do Polo Farmacoquímico de Goiana representa mais do que milhares de empregos para a região, mas simboliza uma ação em busca da autonomia de produção dos fármacos, que são os insumos usados na composição dos medicamentos. De acordo com especialistas e representantes do setor, atualmente, a maioria deles é importada, deixando o País numa situação de vulnerabilidade. Além disso, o polo dá uma nova dimensão à produção farmacêutica no Estado, que começa a produzir e desenvolver novos remédios.

O empreendimento âncora do Pólo Farmacoquímico que chega ao Estado é a Hemobrás. A empresa vem atuar num segmento no qual o Brasil hoje tornou-se 100% dependente, que é na produção de hemoderivados. Seis tipos de medicamento, que são indispensáveis para a sobrevivência de 16 mil brasileiros portadores de hemofilia, alguns cânceres e portadores de HIV, serão produzidos em Goiana (albumina, cola de fibrina, complexo protrombínico, fator IX, fator VIII, fator de von Willebrand, imunoglobulina). “A decisão de se criar uma empresa para produzir hemoderivados é calcada numa necessidade histórica e que já vem tarde.

A ação foi arrojada, corajosa, mas necessária”, disse o presidente da Hemobrás, Rômulo Maciel. A fábrica estará em operação em 2014, quando já irá atender metade da demanda nacional por hemoderivados. A empresa estima que em 2020, quando estiver funcionando em sua capacidade máxima, processará 500 mil litros de plasma. “Quando alcançarmos esse nível de produção, atingiremos a autossuficiência no fornecimento de hemoderivados brasileiros”, disse Maciel. O Brasil gasta atualmente R$ 800 milhões na importação desse tipo de medicamento.

Outro importante ator que ganha uma nova dimensão com o Polo Farmacoquímico é o Lafepe. A empresa instalará em Goiana o Lafepe Química, que produzirá os insumos para os medicamentos que ele mesmo fabrica e também demandados por outros laboratórios oficiais. “Com esse polo industrial, daremos um salto de 30 anos de atraso”, afirmou Luciano Vasquez, presidente do Lafepe e da Associação Nacional de Laboratórios Oficiais (Alfob). O laboratório pernambucano está recebendo missões empresariais estrangeiras interessadas em fazer parcerias para desenvolvimento de novos medicamentos. As parcerias já fechadas neste ano deverão dobrar o faturamento do Lafepe até o final do ano, passando dos R$ 100 milhões atuais para R$ 200 milhões.

Para a professora Suely Galdino, coordenadora da Pós-Graduação em Inovação Terapêutica da UFPE, a urgência da consolidação da indústria farmacoquímica no Brasil ultrapassa o fator comercial.O déficit na balança, devido às importações de medicamentos, se tornou uma questão de saúde pública. “O crescimento do País foi acompanhado pelo aumento e envelhecimento da sua população. Essa população mais velha possui doenças crônicas e são nelas onde se acentuam as necessidades de medicamentos”, afirmou, defendendo uma política urgente para o desenvolvimento da indústria farmacêutica e farmacoquímica nacional.

NEGLIGENCIADOS

Antes mesmo da consolidação do polo, Pernambuco já vem desempenhando um papel relevante na produção e no desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas – associadas à situação de pobreza, às precárias condições de vida tradicionalmente não priorizadas pelos grandes laboratórios privados. Através de um processo de transferência de tecnologia da Roche, o Lafepe produz o único medicamento do mundo para a Doença de Chagas, o Benzonizadol. Fora da geografia desse polo, outra empresa que se lança nesse nicho é a Hebron. Localizada em Caruaru, a fábrica está desenvolvendo um medicamento para tratar a leishmaniose.

Rafael Dantas / Especial para o |NE 10

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