Conexão de modais é o futuro

Para ser competitivo, Pernambuco precisa investir na integração dos transportes fluvial, marítimo, rodoviário e ferroviário

TRAJETO Pluma e fibra de algodão da Bahia seriam exportadas para o Japão por Suape, passando antes pelo Porto de PetrolinaA vocação de Pernambuco como centro de logística não é nova. Remonta aos tempos da invasão holandesa, no século 16. Com a estruturação do Porto de Suape, essa vocação se tornou ainda mais evidente. Mas apenas a localização estratégica e um porto estruturado para transbordo de grandes embarcações já não é mais suficiente para atender às demandas da nova economia do Estado. E quem vive a logística no dia a dia aponta o principal desafio para o Estado não perder competitividade neste setor nos próximos 25 anos: estruturar e articular o transporte multimodal. Em outras palavras, criar a infraestrutura necessária para que os transportes marítimo, fluvial, rodoviário e ferroviário se comuniquem, funcionem de forma coordenada, um complementando o outro, e não de maneira independente. “A integração do transporte multimodal no Estado pode gerar uma economia de custo e de tempo de até 30% para quem escoa seus produtos”, avalia o presidente do Tecon Suape, Sérgio Kano.

Transporte multimodal pode
 gerar economia de custo de até
 30%, diz Sérgio Kano
Eduardo Wanderley

A conexão entre modais se torna imperiosa com o avanço na construção da ferrovia Transnordestina, que ligará Eliseu Martins, no Centro-Sul do Piauí, aos portos de Suape e Pecém (CE) através de dois ramais. Ela seria a espinha dorsal da logística no Estado, mas os benefícios dela só seriam otimizados com uma rede de estações de transbordo em pontos-chave ao longo de seu trajeto, com a interligação com outros modais de transporte. “Se não houver esses pontos, Pernambuco vai servir apenas de passagem de produtos até o porto. A valorização do multimodal também servirá para quebrar um pouco a dependência excessiva do transporte rodoviário”, explica o conselheiro do Grupo de Estudos de Logística em Pernambuco (Gelpe), o consultor Marcílio Cunha.

ÁSIA

Umexemplo de que a necessidade de se trabalhar o multimodal é iminente pôde ser observada na semana passada. Na última sexta-feira (dia 5), o Tecon Suape anunciou a primeira linha de navegação entre a Ásia e o porto pernambucano, operado pela Hamburg Süd-Aliança. Segundo o gerente da transportadora marítima para o Nordeste, Norbert Bergmann, um dos objetivos desta nova linha, além de trazer produtos industrializados ao Nordeste, é transportar para o Japão através de Suape toneladas de pluma e linter (fibra) de algodão produzidos no Oeste da Bahia. Mas, para tanto, seria necessário uma interligação eficiente entre os modais fluvial, rodoviário e ferroviário antes do material chegar ao porto.

O produto, projeta ele, seria levado em barcaças pelo Rio São Francisco a partir de Ibotirama, no Centro-oeste da Bahia, até o Porto Fluvial de Petrolina, onde seria colocado em contêineres e despachado junto à alfândega. De Petrolina, ele seguiria em caminhões para Salgueiro, para um terminal de transbordo da Transnordestina que está sendo projetado. E daí finalmente ele chegaria pelos trilhos ao Porto de Suape, para seguir de navio viagem ao Japão. Enquanto a ferrovia não estiver pronta, o transporte entre Petrolina e Suape seria de caminhão. A pluma e o linter do algodão do Oeste baiano são escoados hoje via Porto de Santos (SP).

Benefícios da Transnordestina só serão obtidos
com estações de transbordo

Norbert Bergmann diz que, apesar de toda a complexidade da operação, haveria economia em custos e tempo utilizando Suape. “Mas é preciso que essa cadeia funcione de forma eficiente”, adverte ele. O Porto de Petrolina existe, mas só formalmente – na prática ele está praticamente inativo. E a implantação da estação de transbordo em Salgueiro está em fase de estudos.

O consultor Marcílio Cunha explica que conexão multimodal é uma etapa natural na busca por mais eficiência no setor de logística. Ele chama atenção para a importância de uma boa estruturação das estações de transbordo da Transnordestina para a conexão com o transporte rodoviário.

Duas estações estão previstas em Pernambuco: uma em Salgueiro (Sertão) e outra no Cabo de Santo Agostinho (Região Metropolitana). “Salgueiro, por exemplo, deve se consolidar como um centro distribuidor de produtos para o Sertão não só de Pernambuco, mas também da Paraíba, do Ceará, do Rio Grande do Norte. Também será de grande importância para o transporte de produtos como o gesso do Sertão do Araripe. Mas ele só se consolida como tal se bem estruturado”, avalia.

RODOVIAS

EPTI Governo quer interligar linhas intermunicipais e informatizar o pagamento da passagemMesmo a conexão multimodal seja um caminho sem volta, o transporte rodoviário ainda vai representar uma parcela significativa para o setor de logística nos próximos anos, caso o Estado pretenda se manter competitivo. O ritmo de investimentos em melhoria de estradas, porém, precisa acompanhar o crescimento da economia, o que não acontece. A saída, segundo empresários, seria privatizar rodovias, ao menos às que receberão um maior fluxo de veículos de carga. “Vivemos um momento de muita liquidez, com muita gente interessada em investir nesse setor”, afirma Kano.

Desenvolvimento esbarra no transporte do interior

No momento em que a economia do Estado cresce a índices chineses, o transporte de passageiros ganhou relevância dentro da atividade econômica. Afinal, é por meio dele que a massa de trabalhadores vai até o trabalho, viabilizando o funcionamento de toda a engrenagem produtiva. Mas, o setor vive momentos distintos. Enquanto às empresas que operam na Região Metropolitana do Recife (RMR) sobra otimismo quanto ao futuro, quem opera linhas intermunicipais vive entre incertezas e esperanças. Os empresários apontam a falta de estruturação do transporte no interior como um gargalo que deve ser enfrentado para que os municípios fora da RMR se beneficiem do desenvolvimento econômico do Estado.

“Não há qualquer planejamento de um sistema de transporte para o interior. Isso inibe um empresário de investir em um local onde ele não tem um sistema de transporte regular que leve o funcionário dele para o trabalho”, avalia o Rafael Teles, gerente de operações da Norte Sul, empresa sediada em Escada (Mata Sul) e que opera linhas para o Cabo de Santo Agostinho e para o Recife. “O critério de transporte intermunicipal precisa ser revisto, principalmente em cidades pólos, caso de Caruaru, Petrolina e Garanhuns, onde há um fluxo grande de passageiros vindos das cidades circunvizinhas.”

O otimismo das empresas que operam no Grande Recife se deve ao fato de que a mobilidade urbana passou à primeira grandeza na ordem dos problemas que os governos estadual e municipais se propõem a enfrentar nos próximos anos. Dentro do tema mobilidade, a valorização do transporte coletivo, principalmente por ônibus, é a bola da vez para minimizar os engarrafamentos, com a construção de corredores exclusivos para ônibus, caso do corredor central na BR-101, e a consolidação dos já projetados, caso dos corredores Norte Sul e Leste-Oeste.

“O passageiro quer um transporte público eficiente, ou seja, rápido. Comesses corredores exclusivos, devemos diminuir o intervalo das viagens o otimizar o uso da frota. Isso tudo hoje depende do Poder Público. Mas estamos otimistas com esses projetos todos que estão sendo discutidos sobre mobilidade” afirma Fernando Bandeira, presidente da Urbana PE, o sindicato das operadoras de transporte público de passageiros no Estado.

Dílson Peixoto, presidente da recém criada Empresa Pernambucana de Transporte Intermunicipal (EPTI), braço do governo do Estado responsável por gerir o transporte rodoviário no interior, reconhece que o sistema de transporte intermunicipal precisa ser “repensado” para se inserir no novo perfil econômico de Pernambuco. “Ele precisa funcionar como facilitador da atividade econômica. Do jeito que está, funcionando de forma isolada e descoordenada, ele é completamente arcaico”, admite.

Dílson informa que estão entre as prioridades da EPTI interligar as linhas intermunicipais que alimentam cidades polos.OEstado seria dividido em 13 regiões de desenvolvimento e as linhas, com seus itinerários e horários, seriam adequadas a atender o perfil de cada uma delas. Todo o processo de transporte seria informatizado, a começar pelo pagamento das passagens. “Não terá mais espaço para o pagamento em dinheiro. A idéia é usar um cartão, como é oVEMno Grande Recife.” A EPTI deve lançar em setembro edital para contratar uma consultoria que indicará o melhor modelo para a gestão do novo transporte intermunicipal. Dílson Peixoto promete licitar já em 2012 as linhas que funcionarão neste novo modelo.

Gilvan Oliveira / Jornal do Commercio / Especial Pernambuco da Nova Geração

Um comentário em “Conexão de modais é o futuro

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  1. Fernando,
    tudo bem? Só para esclarecer, esta matéria é do repórter Gilvan Oliveira. Fiz parte do especial, mas em outros textos.
    Obrigada.
    Abs

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