Matriz industrial do Estado é renovada

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REINDUSTRIALIZAÇÃO Setores estreantes, como montadora de veículos e Polo Petroquímico delineiam o retrato da nova economia

Pernambuco vive uma nova revolução industrial. Um processo de reindustrialização ancorado na chegada de empreendimentos que não figuravam no nosso mapa econômico. Na região do Complexo de Suape, onde antes da construção do porto só brotava cana de açúcar, despontam fábricas de navios, montadora de veículos, unidade de refino de petróleo, siderúrgica e complexo petroquímico. Ao norte do Grande Recife, a instalação de um polo farmoquímico no município de Goiana inaugura na região uma indústria intensiva em tecnologia. É o retrato da nova economia do Estado.

Atenta a essa mudança, a 11ª edição da Pesquisa Empresas e Empresários (E&E) decidiu estudar esses setores estreantes e avaliar como os segmentos tradicionais vão interagir nessa nova dinâmica. Na E&E 10, o destaque foi para os dez setores de maior relevância na economia pernambucana até então (sucroalcooleiro, construção civil, metalmecânico, logística, moda e confecção, tecnologia da informação e comunicação, fruticultura irrigada e vitivinicultura, varejo moderno, turismo e cultura e serviços modernos). Agora temos o desafio maior de olhar para o futuro. Alguns setores ainda nem existem no Estado, a exemplo do refino de petróleo, mas já gera empregos na construção, movimenta toda a economia e alavanca o PIB”, observa o consultor da Ceplan, Valdeci Monteiro, responsável pela apresentação da distribuição dos setores nesta edição da pesquisa.

Os segmentos foram divididos em três blocos: motrizes, carreadores e transversais (veja arte). O primeiro grupo traz os novos setores da matriz industrial e que têm capacidade de fomentar o desenvolvimento de importantes cadeias de negócios com sua chegada. “Estamos falando de automobilístico, siderúrgico, petroquímica e material plástico, farmoquímico, petróleo, gás, offshore e naval”, enumera Monteiro. A Fiat, que vai investir R$ 3 bilhões numa montadora com capacidade para produzir 250 mil veículos por ano, traz com ela pelo menos 50 empresas da cadeia produtiva. São os chamados sistemistas, que precisam estar próximos à fábrica para garantir o sistema just in time na montagem dos carros.

Também foram incluídos na categoria de motrizes, segmentos tradicionais que terão uma atuação diferente nesse novo cenário, a exemplo do metalmecânico, sucroalcooleiro e turismo, cultura e indústria criativa. “O secular setor metalmecânico, por exemplo, vai dialogar e se tornar fornecedor de vários setores como petroquímico, naval, siderúrgico e até farmoquímico”, destaca a coordenadora técnica da pesquisa, Fátima Brayner. O setor sucroalcooleiro foi rebatizado de sucroenergético nesta edição da pesquisa, numa clara referência à importância que o etanol terá no Estado, principalmente se o projeto do Canal do Sertão for concretizado e abrir uma nova fronteira agrícola para a cana de açúcar em Pernambuco. No caso do turismo e da cultura, a perspectiva é de que ganhem reforço da indústria criativa.

Além dos segmentos motrizes, a pesquisa também vai se debruçar sobre os setores carreadores e os transversais. O primeiro é integrado por áreas tradicionais da economia, como processamento de alimentos e bebidas, moda, confecção e têxtil, fruticultura irrigada, avicultura e ovinocaprinocultura. Os transversais são os que interagem com todos os demais setores, fornecendo produtos e serviços, a exemplo de logística e transporte de passageiros, varejo moderno, construção civil, tecnologia da informação e comunicação e serviços modernos.

O Polo Farmoquímico poderá colocar Pernambuco na rota dos players mundiais
Segundo cálculo da Ceplan, as indústrias que estão desembarcando em Pernambuco somam investimentos da ordem de R$ 52,7 bilhões. O tamanho dos empreendimentos aponta para a mudança de escala da economia local. Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) refletem essa mudança de escala. Pernambuco ficou entre os três maiores tomadores de financiamento da instituição no ano passado, junto com São Paulo e Rio de Janeiro.

“Para se ter uma ideia da importância do Estado no cenário econômico nacional, basta dizer que o município de Ipojuca (onde está localizado o Complexo de Suape) foi o segundo destino dos empréstimos do BNDES no ano passado, perdendo apenas para o Rio, onde está sendo construído o Comperj (Complexo Petroquímico da Petrobras)”, compara o chefe do Departamento Regional do BNDES no Nordeste, Paulo Guimarães. Ele recorda que há três anos o banco realizava uma média de três mil operações por ano no Estado. Em 2009 esse número saltou para seis mil e no ano seguinte dobrou para 12 mil contratos.

Saindo de Suape, o Polo Farmoquímico de Goiana poderá colocar Pernambuco na rota dos players mundiais da indústria química e farmacêutica. É um setor intensivo em tecnologia e inovação, com alta capacidade de agregação de valor. A região vai abrigar empreendimentos-âncora como a fábrica de hemoderivados da Hemobrás e a indústria de vacinas da Novartis. “Precisamos entender que saúde não é apenas um serviço. Ela estimula o uso de alta tecnologia, adensa cadeias. É um negócio. Quando se fala na Hemobrás precisamos ter em mente que vamos concentrar todo o plasma do País e para isso serão demandadas embalagens, serviço especializado de logística e tantos outros”, observa a professora da Universidade Federal de Pernambuco, Sueli Galdino.

Novos investimentos aquecem o setor de varejo
O novo cenário econômico de Pernambuco aponta para a tendência de aumento da participação da indústria no Produto Interno Bruto, ao longo dos próximos anos. Na década de 80, o setor respondia por um quarto do PIB e a estimativa é voltar a esse patamar a partir da maturação dos novos empreendimentos. Hoje os serviços lideram com participação de 66,7% contra 16,6% da indústria. A boa notícia é que mesmo diminuindo sua fatia, os serviços não perdem dinamismo porque o setor industrial alavanca o terciário.

O superintendente do Shopping Guararapes, Eduardo Lemos Filho, diz que o varejo não tem do que se queixar. A renda do brasileiro e do pernambucano melhorou, o desemprego
arrefeceu e a nova classe média ascende na sociedade do consumo. “A chegada de todos esses investimentos a Pernambuco também tem forte impacto no varejo. O que precisamos fazer é melhorar a competitividade do Estado para crescer melhor, de forma sustentada”, alerta.

Algumas empresas estão aproveitando oportunidades em mais de um segmento ao mesmo tempo. É o caso da recém- nascida Cone S.A. – companhia formada pelos sócios da construtora Moura Dubeux Engenharia e pelo Fundo de Infraestrutura/ FGTS, gerido pela Caixa Econômica Federal. A empresa vai aportar os investimentos na infraestrutura da Companhia Siderúrgica Suape (CSS), que será construída na região com orçamento estimado em R$ 1,5 bilhão e geração de 800 empregos diretos.

A Cone S.A. também vai atuar no segmento transversal por meio da implantação do Condomínio de Negócios Cone Suape – um complexo de quatro empreendimentos logísticos e de infraestrutura para atender às empresas que estão chegando. “O Porto de Suape tem hoje uma convergência de cadeias produtivas sem similar no Brasil. Decidimos aproveitar as oportunidades que vão surgir na área de logística. Compramos uma área gigante às margens da BR-101 e vamos ofertar galpões para as empresas. Pernambuco tem um estoque pequeno de galpões para oferecer”, afirma o diretor-executivo da Cone S.A., Marcos Roberto Dubeux.

Prestes a completar dez anos de atuação em Pernambuco, no dia 2 de julho, o Tecon Suape teve um papel indutor no desenvolvimento do Porto de Suape e acompanha o novo momento do complexo.

Empresas aproveitam as oportunidades em mais de um segmento

“Como uma empresa privada temos que dar respostas rápidas ao mercado. Para nos adequar ao novo cenário de Pernambuco estamos investindo permanentemente. Em 2009, nossa expectativa era aplicar US$ 45 milhões em três anos. Alcançamos esse valor em apenas um ano e meio e nossa nova projeção é realizar mais de US$ 100 milhões em investimentos nos próximos cinco anos”, calcula o presidente do Tecon Suape, Sérgio ano. O executivo comenta que o Brasil só descobriu a logística no século 21, mas ela é milenar e está presente em todos os setores da economia.

O setor sucroalcooleiro desponta com a possibilidade de se renovar nesse novo ciclo da economia estadual. A construção do Canal do Sertão poderá permitir quase dobrar a produção de cana de açúcar em Pernambuco, abrindo uma nova fronteira agrícola para a atividade. O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, diz que o cultivo de cana irrigada poderá aumentar tanto a produção de açúcar quanto a de etanol, podendo rebatizar o setor para sucroenergético. “A produção de etanol saltou exponencialmente no Brasil. Nos anos 80 era de 3,7 bilhões de litros, passou para 10,4 bilhões na década de 90 e agora está no patamar de 27 bilhões de litros. E ainda tem muito espaço para crescer”, sentencia.

Especial Jornal do Commercio

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