Inovação começa pela cabeça do empresário

A falta de uma cultura inovadora por parte dos gestores é o principal entrave para que atuem de forma mais competitiva

Mente do empresário. Primeiro gargalo a ser vencido pelo processo de inovação. Enquanto a necessidade de inovar não for uma cultura dentro das empresas, os recursos, ambientes adequados e mobilidades necessárias para criação dificilmente surgirão. Como o tema ainda é muito novo, até mesmo dentro do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), a missão inicial das consultorias e entidades de classe ou de estímulo ao desenvolvimento é de desmistificar esse conceito, para permitir aos atores da economia pernambucana se manterem vivos no mercado cada vez mais competitivo.

“Inovação é uma mudança de cultura, quando o conceito é aplicado aos negócios é uma transformação para lucrar mais. A cabeça do nosso empresário é o primeiro lugar a se visitar para iniciar esse processo”, defendeu Cláudio Marinho, consultor e ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Estado.

Casos de sucesso, como a da Baterias Moura e da fruticultura no Vale do São Francisco, são exemplos de que fazer algo novo, mesmo em situações adversas, vale a pena. A primeira, que hoje produz cinco milhões de baterias por ano, começou a fabricar placas de bateria em Belo Jardim, uma cidade com tradição agrícola e artesanal, a 175 quilômetros do Recife. No outro, a bem-sucedida produção de frutas em plena região do Semiárido, responsável pela maior parcela das exportações de uvas do País. Com o avanço da tecnologia e das pesquisas científicas e com a entrada de novos concorrentes de peso no mercado global, a inovação deixou de ser apenas um diferencial e passou a ser questão de sobrevivência.

Para o diretor vice-presidente da Federação da Indústria de Pernambuco (Fiepe), Oscar Rache, o crescimento da concorrência com produtos estrangeiros acentuaram a necessidade de colocar a inovação no centro da agenda empresarial do País. “Para muitos inovação pode parecer modismo, mas é uma questão de sobrevivência. A indústria brasileira e pernambucana terão dificuldade de resistir às pressões do mercado sem inovação. A tecnologia de produção dos principais atores globais faz com que consigam produzir de forma mais econômica e coloquem os seus produtos no Estado”, alerta Oscar Rache.

MERCADOS

Além do desconhecimento, outro fator a ser enfrentado é o receio de entrar em novos territórios ou de abraçar novos negócios. “Somos condicionados a uma repetição de situações favoráveis de sucessos do passado, enquanto a verdadeira inovação exige transformação do modelo mental. Todos nós temos comportamentos defensivos quando estamos diante da ameaça das mudanças, e fazer escolhas de melhores meios para alcançar os mesmíssimos fins está longe de inovar”, declarou o consultor Antônio Valença, doutor em Ciência da Ação e professor do MBA do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O consultor Cláudio Marinho considera ainda que o conformismo empresarial é um dos principais entraves para o crescimento das empresas e a conquista de novos mercados. “A tendência de não mexer em time que está ganhando é perversa, pois é uma contradição de peso a um ambiente de inovação. É uma postura que não permite o acréscimo de algo novo, pois o novo é desconhecido”, diz Marinho.

Mesmo com cursos, capacitações e palestras, colocar inovação em prática é uma tarefa de exercício. Para o consultor Antônio Valença é necessário o uso de ferramentas, como softwares de simulação de gestão, que permitam ao empresário assimilar com maior velocidade o conceito. Segundo o consultor, essa seria uma maneira para o gestor, que não tem o perfil de arriscar, começar jogando com o planejamento da empresa, obtendo inúmeras informações que o deixe mais seguro para tomar decisões.

“O que não for conhecimento real, praticado, é discurso, e discurso sem prática é ilusão. É preciso acelerar o processo de internalização e aquisição de conhecimentos, através de práticas laboratoriais. É imprescindível criar ambientes de aprendizagem organizacional com o uso de simuladores estratégicos e de negócios”, defendeu Valença.

COMPETITIVOS

Com o modelo mental de inovação compreendido, o trabalho de buscar novas soluções nunca está acabado. A preocupação dos empresários da fruticultura do Vale do São Francisco com as pesquisas e desenvolvimento é um bom exemplo do que acontece quando esta mentalidade está internalizada. “Somos produto da inovação e entendemos que é preciso mudar constantemente. Muitos pensam não se precisa de pesquisa no Vale do São Francisco. Mas, sabemos que precisamos usar novas tecnologias e estudar novos produtos para não perdermos competitividade para Espanha e Israel, que estão debruçados em pesquisas”, ressaltou José Gualberto, presidente da Valexport e do Instituto do Vinho.

Jornal do Commercio

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