O meio ambiente somos nos

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Quando você pensa em preservação ambiental, qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça? Para muitos, o pensamento imediato é o de manter a sobrevivência da Floresta Amazônica, do mico-leão-dourado, ou das tartarugas. Isso é importante mas não é tudo. É preciso modificar a maneira como nós (consumidores, empresas, agricultores e governo) atuamos na Terra. Essa atuação tem sido marcada pelo uso dos recursos naturais, sem nos preocuparmos que eles, um dia, poderão acabar. E aí, se eles chegarem ao fim, não são apenas as tartarugas que estarão em extinção, mas a própria espécie humana. Na verdade, trata-se de um problema complexo que envolve a economia mundial.

“O modelo de crescimento econômico do mundo foi baseado no uso intensivo desses recursos, mas tornou-se questionável porque eles são finitos, como a água, o solo, a energia”, alerta Fátima Brayner, professora de engenharia química da UFPE e doutora em meio ambiente. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, a demanda por recursos naturais excede em 35% a capacidade do planeta Terra. Caso o ritmo dessa demanda seja mantido, em 2030, serão necessárias duas Terras para atendê-la. O cálculo não é de nenhum ativista ambiental apocalíptico, mas do indiano Pavan Sukhdev, economista sênior do Deutsche Bank. A convite do G8, o grupo dos oito países mais ricos do mundo, Sukhdev foi convidado para calcular o custo dos danos ao ambiente causados pelo homem, num projeto que ficou conhecido como A economia dos ecossistemas e da biodiversidade.

O problema desse modelo a que se refere Fátima, é que ele é baseado no aumento constante da produção, que é alimentada pelo consumo. Trocando em miúdos: para a economia crescer é necessário produzir cada vez mais bens e serviços e para isso é preciso que a gente consuma mais e mais. Todo esse processo demanda recursos naturais numa progressão exaustiva, colocando em risco a existência da natureza e do próprio homem. “Quanto mais cresce a economia, mais aumenta o impacto ambiental”, constata o filósofo Marcelo Pelizzoli, professor da UFPE nas áreas de saúde coletiva e gestão ambiental.

SUSTENTÁVEL

O alerta vermelho dessa situação foi dado em 1972, quando, durante a Conferência de Estocolmo (Suécia), promovida pela ONU, surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável para se contrapor ao padrão econômico vigente. Seus criadoresy defendem a exploração dos recursos naturais de maneira racional e eficiente, para atender as necessidades do presente, porém, levando em conta a utilização desses recursos no futuro. “É a busca de uma alternativa de um modelo que garantiria a sobrevivência da espécie”, resume Fátima.

Porém, não é nada fácil levar esse conceito para a realidade. Por que? Bem, a mudança envolve levar empresas a não vislumbrarem o aumento da produção e das vendas, e as pessoas a consumirem menos. Isso poderia implicar até na redução do crescimento econômico e qual país se aventuraria a querer um PIB (Produto Interno Bruto) negativo? Não por acaso, governos como o norte-americano se recusam a assinar o Protocolo de Kyoto, tratado internacional que visa a redução da emissão de gases que agravam o efeito estufa. Para reduzir esses gases (provenientes dos escapamentos de automóveis e chaminés de indústrias entre outras origens) seria necessário diminuir o ritmo de crescimento econômico ou encontrar rapidamente um substituto para o petróleo.

Também vivemos num mundo onde a população dos países emergentes, como o Brasil, está ascendendo e aspirando à aquisição de maravilhas da modernidade como um carro ou um ar condicionado, produtos que contribuem para o aquecimento global e a redução da camada de ozônio. Estudos mostram, por exemplo, que a Terra não aguentaria se os mais de um bilhão de chineses tivessem o mesmo padrão de consumo de um norte-americano de classe média. “Não se pode universalizar o estilo de vida burguês”, decreta Pelizzoli.

Para implantar o desenvolvimento sustentável é preciso uma profunda mudança de valores, por parte de todos – consumidores, empresários e governo. Abrange, por exemplo, levar em conta as gerações que estão por vir e desprezar a maximização individual dos lucros. Também envolve processos coletivos de tomadas de decisão. “A economia ecológica tem que ter outros valores, que seriam a economia solidária, cooperativas, etc”, afirma o filósofo.

O conhecimento científico e tecnológico, segundo Fátima Brayner, poderá ajudar nessa transição para encontrar alternativas para que a vida do homem na Terra cause menos impacto ao meio ambiente. Mas tanto ela quando Pelizzoli acreditam que o fundamental será incentivar uma educação ambiental que extrapole as escolas e estimule uma nova ética entre os homens. “A partir da educação pode-se construir uma geração que tenha percepção do que é o consumo exacerbado, que se preocupe com seu entorno e pense nas gerações futuras. É uma postura ética com a vida. A sociedade pode permitir que a educação construa um mundo melhor”, acredita Fátima.

Jornal do Commercio

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