Nordeste tem pressa para crescer

Em 1983, Jornal do Brasil, um jornal no Rio de Janeiro, enviou um repórter para o nordeste do Brasil para cobrir uma seca. Ele encontrou residentes famintos comendo ratos e lagartos. Desde então, o país tem feito progressos. No entanto, o Nordeste continua sendo a região mais pobre do Brasil: tem 28% da população do país, mas apenas 14% do seu PIB. Um quinto dos adultos da região são analfabetos, o dobro da taxa nacional. A região detém mais da metade dos brasileiros que vivem com menos de 70 reais (43 dólares) por mês. Durante décadas, tem exportado os trabalhadores para as cozinhas e locais de construção das cidades ricas no Sudeste.

Recentemente, no entanto, o Nordeste tornou-se astro econômico do Brasil. Na última década, o PIB da região aumentou 4,2% ao ano, em comparação com 3,6% para o país como um todo. No ano passado, a economia pernambucana cresceu como a China 9,3%.

O programa Bolsa Família, esquema anti-pobreza muito elogiado do governo Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido importante, diz Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, um instituto de pesquisa. Mas outras políticas do governo têm ajudado mais. Três quartos do crescimento da renda desde 2003, quando Lula se tornou presidente, vieram de receitas, não de doações. Em termos reais o salário mínimo aumentou em cerca de 60% face a período homólogo, com os maiores benefícios sentidos no Nordeste. O instituto avalia que o Crediamigo, o Banco estatal do programa Nordeste do micro-crédito, tirou mais de 1 milhão de pessoas da pobreza na região.

O poder de compra da região está a atrair empresas. No início deste mês Kraft Foods abriu sua primeira fábrica na área, fazendo chocolate e bebidas em pó. Sudene, uma agência governamental de desenvolvimento regional, ajudou a financiar 52 shoppings no Nordeste desde 2006. E migrantes do nordeste estão voltando para casa para trabalhar. Pão de Açúcar, uma cadeia de supermercados, está se expandindo na região, oferecendo às pessoas da região trabalho nas suas lojas e a outros a chance de transferência.

“Agora, o Nordeste é um grande canteiro de obras”, diz Fernando Bezerra Coelho, o ministro da integração federal. O governo está investindo pesadamente em obras públicas, incluindo o alargamento da estrada costeira do Atlântico. Mas a principal fonte de crescimento é o porto e complexo industrial de Suape, que está sendo ampliado para receber navios maiores. Uma planta petroquímica, o maior estaleiro do hemisfério sul e uma refinaria da Petrobras, empresa petrolífera controlada pelo Estado, estão em construção. Mais de 100 empresas se mudaram para lá, atraídas por incentivos fiscais e por excelentes condições logísticas. Só a Fiat está investindo R $ 3 bilhões em uma fábrica de automóveis nas proximidades.

Em 2013, se tudo corre conforme o plano, uma nova ferrovia, a Transnordestina, ligará Suape para o interior do Nordeste (veja mapa). O governo federal começou a construir em 1990, mas parou por falta de dinheiro e só recomeçou em 2006. Um segundo ramal vai viajar para o norte até o porto de Pecém, que também está sendo expandido. Lá, o governo do estado do Ceará anunciou a criação de um instituto para treinar 12 mil trabalhadores por ano, e a Petrobras vai construir uma nova refinaria. Paulo Roberto Costa diretor de distribuição da Petrobras, prevê trens, levando soja, milho e minério de ferro do interior para os portos e retornando com óleo. Os tempos de viagem à Europa e América serão três ou quatro dias a menos que a partir dos portos do Sudeste. A linha de 1,728 km, irá um dia levar 30 milhões de toneladas de carga por ano.

Paulo Falcão, o diretor do projeto Transnordestina, está preocupado com um problema novo para o Nordeste: a falta de trabalho. Apesar da palavra dos grandes projetos espalhados pelo Nordeste está atraindo trabalhadores de todo o país, a procura é tal que a Odebrecht está treinando todos os seus carpinteiros e pedreiros, motoristas e operadores de empilhadeira. Alguns não têm nenhuma experiência em construção anterior. Um quinto dos trabalhadores no município de Salgueiro são mulheres.

“A China é agora o Japão dos anos 1960”, diz Eduardo Bartolomeo, diretor de logística da Vale, uma empresa mineradora. Nessa época o apetite do Japão por metais financiou os grandes investimentos da Vale no transporte ferroviário e marítimo. Hoje a fome da China por minério de ferro paga para seus projetos de infra-estrutura. Até 2015 Ponta da Madeira, porto privado da Vale, será o maior do Brasil em tonelagem, com exportação de 230 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. A estrada de ferro da mina de Carajás, no Estado do Pará para o cais está sendo atualizado para levar trem com 330 carros, cada um com três quilômetros de comprimento, com um custo de 4,5 bilhões de reais.

Os benefícios, diz o Sr. Bartolomeu, vai além de mineração. Ele aponta para a ferrovia Norte-Sul como prova. Desde 2007, quando a Vale começou a operar a linha, a produção de soja na região do entorno aumentou 8,5% ao ano, e o preço da terra mais do que duplicou em alguns lugares.

O ritmo acelerado de desenvolvimento da região, combinada com o novo volume de trabalho e de trabalhadores levou a algumas greves. A tensão também é evidente nos engarrafamentos e aumento dos preços da habitação. No Ceará, Adail Fontenele, o secretário estadual de infra-estrutura, diz que os municípios do entorno do Pecém estão preocupados em encontrar casas para os novos trabalhadores da cidade. Se alojamento decente não é construído rápido o suficiente, favelas podem surgir em seu lugar.

O maior risco é que a região não consiga resolver a sua fraqueza de longa data: baixa escolaridade. “Já vimos booms em infra-estrutura no Nordeste antes, e eles nos ajudaram a alcançar o estágio atual”, diz Alexandre Rands da Datamétrica, empresa de consultoria. “Mas nos últimos 60 anos têm demonstrado que só infra-estrutura não é suficiente.” As grandes empresas estão treinando os trabalhadores de que necessitam. Mas o Nordeste gasta menos nas escolas que a média nacional, e tem professores mais fracos. Para que a próxima geração se beneficie plenamente do que hoje está construindo, as escolas da região deverão receber um upgrade também.

Fonte: The Economist (Tradução livre)

Leia texto original em inglês

2 comentários em “Nordeste tem pressa para crescer

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  1. Em 1983 eu já sabia ler e escrever, e não teria dificuldade em identificar que quem escreveu essa matéria nunca esteve em nossa região, muito menos em Pernambuco. o conteúdo parece uma bela colagem de parágrafos de notícias de época buscadas pelo google, sem análise, sem ordem e cheios de preconceitos com nossa região. quem sabe um dia possam comprar uma passagem aérea e abestalhar-se com nossas riquesas. em qualquer lugar do mundo onde se instale um estaleiro e uma refinaria ao mesmo tempo haverá uma demanda por profissionais que não será suprida, terá que ser preparada. acho melhor procurar escrever sobre cidadania, economia está muito difícil para você..

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