A roda-viva do emprego

Alta rotatividade, em outras épocas, era sinal de que a economia não andava muito bem. Hoje, a história é diferente. Pelo menos, em alguns campos de atuação, nos quais o aquecimento se tornou motivo para o ´entra e sai`. Em Pernambuco, o fenômeno atinge sobretudo executivos, profissionais de tecnologia da informação (TI), engenheiros e outros trabalhadores da construção civil. Nos últimos anos, eles passaram a encarar de outra forma o término do ciclo em uma empresa. Muitos até tomam a iniciativa de colocar um ponto final na relação. Tudo porque já não enfrentam tantas dificuldades para encontrar uma nova vaga, que lhes proporcione um salário maior ou importantes desafios profissionais.

O caso da construção civil representa bem a situação. Em 2010, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 114.645 pessoas foram admitidas e 82.300 desligadas do setor em Pernambuco. Os números superam – e muito – os dos anos anteriores.Em 2007, por exemplo, 38.933 conseguiram trabalho na área e 33.113 perderam. A evolução, na comparação entre dezembro dos dois anos, reflete-se na taxa de rotatividade, que saiu de 5,16 para 6,46 – maior que as do Nordeste (5,22) e do Brasil (5,05). Em fevereiro de 2011, o índice chegou a 6,89.

Com o boom do mercado imobiliário e das obras estruturadoras, as empresas viram-se obrigadas a ampliar o quadro de pessoal. O problema é que, devido a um marasmo de quase 30 anos, a construção civil perdeu mão de obra especializada. A consequência, segundo a consultora de recursos humanos Ana Thereza Almeida, foi o surgimento de uma disputa por engenheiros e outros trabalhadores do setor. Para eles, diz, a maior motivação para trocar de emprego é financeira.

Em outros setores, o dinheiro tem menos influência. Para especialistas em RH, os executivos costumam dar valor ao desafio, e os profissionais de TI, ao ambiente de trabalho e às oportunidades de crescimento. Versão confirmada pela história do estudante de ciênciasda computação Roberto Mello, 23. Até o início do ano, ele tinha um salário de R$ 1,7 mil, além de R$ 250 para alimentação. Foi quando recebeu o convite de outra firma, com a oferta de R$ 2,4 mil e R$ 220 para refeições. Os antigos empregadores cobriram a proposta, e Mello acabou entrando em leilão.

O universitário fugiu da dúvida ao considerar pontos que iam além da remuneração. ´Na nova empresa, eu seria analista de sistemas, cargo um pouco mais alto do que o meu na época, que era de desenvolvedor. Então, acabei topando a proposta pelo crescimento profissional e pela chance de conhecer novas áreas`, diz.

Mello corre o risco de receber novos convites. Isso porque, segundo o economista Josué Mussalém, o ´entra e sai` de executivos e profissionais de TI deve durar mais que o do pessoal da construção civil, setor cuja empregabilidade cairá com a conclusão das grandes obras. Depois, afirma Eline Nascimento, diretora da Ágilis RH, a rotatividade tende a crescer em áreas como serviços e produção industrial.

Tiago Cisneiros // Especial para o Diario

Comente agora!

Blog no WordPress.com.

Acima ↑